4 de junho de 2009

O Nascimento de Vênus

Sandro Boticcelli (c. 1422-1510)
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Este quadro de Botticelli, que explora curioso tema mitológico, é uma referência dentro do Renascimento. A lenda diz que Urano foi castrado pelo filho Saturno, ou Cronos (o Tempo), que atira seus órgãos genitais no mar. Da espuma formada na água a partir desse fato, nasce Vênus, a deusa do amor, da beleza e do casamento. À esquerda da deusa, vemos Zéfiro, o Vento Oeste, que a conduz à praia com seu sopro suave e protetor. À esquerda, uma das quatro Horas, personificações das estações do ano. Em tudo, a leveza do traço e a concepção apolínea das figuras retratadas, uma marca inconfundível do artista. A obra encontra-se na Galleria degli Uffizi, Florença. Deslumbrante.

A Batalha de San Romano

Paolo Uccello (c. 1397-1475)
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Feito por encomenda, este quadro de Uccello é uma exemplo notável de uma das características mais marcantes do seu autor: o senso de espacialidade e o perfeito domínio da perspectiva, que aqui se faz perceber pela utilização de elementos aparentemente desimportantes da tela. As lanças, no chão, para citar um dos detalhes relevantes do quadro, convergem para o ponto de fuga, a cabeça do cavalo do homem de turbante vermelho, Niccolò Tolentino. A cena retratada, que constitui uma homenagem ao comandante-em-chefe da batalha contra o exército de Siena, em 1432, revela, a um tempo, dramaticidade e poesia. A perspectiva (representação das figuras segundo a posição que ocupam na tela) foi mesmo uma preocupação por que se orientou esse grande artista italiano. Uma prova do que se afirma aqui está nas próprias palavras de Uccello: - "Que doce amante é a perspectiva." Uccello, que significa pássaro em italiano, é uma alusão ao impressionante apego do artista aos animais. A obra encontra-se no National Gallery, Londres.

A Deposição

Rogier van der Weyden (c. 1399-1464)
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Este retábulo (painel de grandes dimensões, pintado ou esculpido, que se coloca atrás do altar-mor das igrejas) é considerado uma das obras-primas da arte flamenga. A cena bíblica da deposição é um tema recorrente na História da Arte e Rogier a recria com notável originalidade. A figura de azul, abaixo do Cristo, é Maria, cujas vestes, de um azul vibrante, dão vivacidade à pintura. Observe-se que seus braços reproduzem os braços do filho morto, detalhe que dá ritmo e harmonia à cena. A pintura de Rogier van der Weyden revela um realismo impressionante, em que pese a aparente 'insuficiência' de espaço onde concentra um grande número de pessoas.

O Batismo de Cristo

Piero della Francesca (c. 1415-1492)
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Segundo a simbologia da Igreja Católica, sabemos, o batizado representa um ritual de purificação e renascimento. Neste quadro, originariamente um retábulo, o artista evidencia seu imenso talento na exploração da 'psicologia' dos retratados. Veja-se a serenidade com que o Cristo recebe o batismo ou os anjos se portam, entre atentos e informais. O quadro estrutura-se em duas figuras geométrica, o quadrado e um círculo, com forte sugestão simbólica: aquele representando a terra, este o céu. Assim, o batismo é a passagem da condição humana, em Cristo, para o Deus que Nele se corporifica. A obra está hoje na National Gallery, Londres.

A Anunciação

Fra Angelico (c. 1400-1455)
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Retratando a cena bíblica da Anunciação (Lucas 1:26-38), em que o anjo Gabriel anuncia à Virgem Maria a sua escolha para ser a mãe de Cristo, Fra Angélico demonstra a sua genialidade enquanto pintor. A graça e a leveza do seu estilo, bem como a sensibilidade para inserções 'inesperadas', como a expulsão do Éden de Adão e Eva, no alto da pintura, numa evidência ao fato do Cristo vir para redimir-nos dos pecados terrenos, ressaltam a sua originalidade artística. Em que pese, no entanto, ser um dos expoentes do Renascimento, alguns historiadores chamam a atenção para a presença de elementos góticos em suas obras. A cadeira em que está sentada a Virgem, por exemplo, destaca-se pelo dourado, recorrente na arte medieval, bem como o jardim à esquerda, que sugere um tapete gótico. Angelico era um frei dominicano e sua influência sobre alguns renascentistas é notória.

A Adoração dos Reis Magos

Giotto di Bondone (c. 1267-1337)
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Para que se tenha a noção de sua importância, Giotto é referido pelo poeta Dante na obra-monumento Divina Comédia. Admirado, pois, pelos amantes da arte e pelos artistas de sua época, este pintor é responsável por aquilo que muitos acreditam ser os prenúncios da Renascença. É que sua obra representa, de fato, uma ruptura com o estilo bizantino, com a forma linear e chapada que orienta essa arte. Em A Adoração dos Reis Magos, a obra reproduzida neste blog, deparamos com um tema religioso caro aos cristãos: a chegada dos três sábios do Oriente que trazem ouro, incenso e mirra como presente ao Deus-Menino. Esta pintura, um afresco da série pintada por Giotto na Capela Arena, em Pádua, bem exemplifica o traço vivo e solene do artista.

1 de junho de 2009

A Ceia em Emaús

Caravaggio (1571-1610)
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O artista barroco Michelangelo Merisi da Caravaggio, autor da obra aqui reproduzida, é um dos meus pintores prediletos, sobre quem escrevi certa vez um artigo que é mesmo a minha declaração de amor a sua arte. Esta tela 'narra' de forma dramática a cena bíblica em que Cristo, ressuscitado, abençoa o pão para dois de seus discípulos, o que revela a sua identidade. O gesto, concluem, reedita a atitude de Cristo na Última Ceia. Rico em significados simbólicos, o quadro evidencia algumas das características mais marcantes da obra de Caravaggio: contraste expressivo de luz e sombra, realismo e força dramática.

A Tempestade

Giorgione (1478-1510)
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Giorgione da Castelfranco Veneto é um dos expoentes do Renascimento, ao lado de outros grandes nomes, como Leonardo da Vinci, Michelângelo, Ticiano, Rafael, Sandro Botticelli, Jan Van Eyck, para ficar nos mais conhecidos. Nesta obra, que visitei há algum tempo em Veneza, percebe-se a sensibilidade de um mestre no trato com a cor, o que dá realce aos elementos da Natureza presentes em A Tempestade. Repare-se nos detalhes da vegetação e na beleza com que registra a descarga elétrica que serve de tema ao quadro. A arte renascentista, sabe-se, é parâmetro de perfeição estética, de que a tela reproduzida no alto constitui bom exemplo.

Mona Lisa

Leonardo da Vinci (c.1452-1519)
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O quadro acima dispensa maiores comentários, posto que é dos mais famosos e comentados de toda a História da Arte. O magnetismo que se desprende da tela, pude constatar de perto, foi objeto de uma crônica minha algum tempo atrás. Sobre a obra, em que sobressaem os traços mais marcantes do autor, o sfumato (ensombreamento) e distribuição de luz e sombra, escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade este belo poema minimalista:
O ardiloso sorriso
alonga-se em silêncio
para contemporâneos e pósteros
ansiosos, em vão, por decifrá-lo.
Não há decifração. Há o sorriso.

31 de maio de 2009

O Casal Arnolfini

Jan Van Eyck (c. 1422-1441)
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Segundo registros dos historiadores da arte, este quadro 'testemunha' o casamento de Arnolfini, importante banqueiro italiano à época. É a obra mais conhecida do pintor holandês, constituindo, há um tempo, um documento da celebração particular dos retratados e dos valores dominantes em meados do século XV, o que a torna extremamente rica em simbolismos ou significados ocultos. Chamam a atenção, para ficar num exemplo, os elementos constitutivos do cenário, como o espelho, os sapatos em abandono e a única vela do lustre. Este detalhe simbolizaria o olho de Deus, que tudo vê.